Pequenas Moedas, Grandes Exchanges — Uma Batalha de Davi e Golias

Helder Garcia
3 min readJul 10, 2019

Há um ditado popular que diz: "Casar é fácil, difícil é manter-se casado". No momento que escrevo esse artigo, tem pouco mais de um ano e sete meses que sou desenvolvedor voluntário de um projeto de código aberto de uma blockchain. E desde o início, vez por outra alguém publica um comentário em uma rede social, com a intenção de desmerecer o projeto, dizendo que "qualquer um" cria uma blockchain, ou criptoativo. Bom, a princípio não há como negar tal afirmação. Mas por isso mesmo, por carregar uma verdade, esse tipo de crítica é uma capciosa forma de argumento. Como um cavalo de Tróia, leva empacotado nessa verdade, escondidinho, a intenção de provocar em quem lê a impressão de que tal projeto é totalmente desprovido de trabalho, esforço, e de qualquer mérito.

Pois a verdade é que, sim, criar uma criptomoeda é fácil, mas é extremamente difícil manter o projeto ativo e evoluindo. Fatores como pouco tempo disponível, falta de mão de obra qualificada e disposta a trabalhar como voluntária, falta de recursos financeiros para investimento em listagens em corretoras, marketing e publicidade, entre outros, torna a coordenação e execução do projeto um grande desafio.

Para ter certeza de que você, leitor, entendeu a mensagem dessa introdução, vou resumir em uma frase: Não é fácil!

Mas calma, não estou aqui para chorar choro de bebê no seu ombro. Quero pinçar, dentro desse contexto, um problema específico e propor uma solução.

Durante a evolução do ecossistema de criptoativos no Brasil, que tenho acompanhado nos últimos anos, um dos tipos de players tem ganhado mais força e poder que os outros. Esse tipo chama-se digital currency exchangers, ou exchanges como são mais popularmente conhecidas (exchange é uma redução de exchange platform). Trata-se, no bom português, das corretoras de ativos digitais.

Um dos principais pontos de expansão de um projeto de criptoativo é buscar liquidez sendo listado nessas corretoras. No entanto, essa relação tem ficado cada vez difícil para pequenos projetos dado o grande poder econômico sendo concentrado nessas entidades. Taxas de listagem estratosféricas, exigências das mais diversas, e retirada da plataforma unilateralmente sem qualquer tipo de compensação e com avisos prévios curtíssimos. Isso acontece não apenas com as corretoras nacionais, mas internacionais também.

Cada projeto isoladamente tem pouco poder de barganha nesse processo. Grandes projetos entram sem pagar nada, mas os pequenos são sufocados e muitas vezes abandonados pelas exchanges sem o menor pudor.

Qual uma possível solução para isso? UNIÃO. Partindo da premissa — não comprovadamente verdadeira ainda — de que as exchanges precisam dessas receitas de taxas de listagem, podemos nos guiar por modelos de outros contextos econômicos como saída para tentar balancear as forças nessa relação. Modelos como o de pequenos produtores rurais que criam cooperativas, ou mesmo dos acordos comerciais entre blocos econômicos do mapa mundial. Nesses modelos, os atores se juntam e criam condições mínimas nas quais qualquer um deles deve se basear para aceitar negociar com outro player. Em outras palavras, a entidade externa não conseguirá negociar com nenhum deles caso não aceite aquelas condições mínimas.

No caso concreto das exchanges essas condições poderiam incluir, por exemplo, tempo mínimo de permanência na plataforma, taxa máxima de listagem baseada no ranking da exchange no coin market cap, entre outras. Os componentes no bloco devem se reunir periodicamente para definir e aprimorar essas diretrizes, além de criar um modelo de contrato padrão para a celebração dos acordos com as corretoras.

Seria algo como um Acordo de Cooperação entre Projetos de Criptoativos. Os membros assinariam um documento se comprometendo a seguir as diretrizes do acordo. Podemos começar com projetos brasileiros e, em seguida, expandir para projetos latino-americanos.

Se você leu até aqui e acha que essa ideia pode funcionar, ajude a divulgar enviando para os canais de comunicação dos projetos aos quais acompanha. Se você faz parte do board de algum projeto e quer contribuir para a concretização dessa proposta, poste seu comentário aqui ou entre em contato pelo email helder.garcia@gmail.com.

Finalizo com uma frase que me inspira muito e peço escusas, mas ela soa mais bonito em inglês:

"If you stand for nothing, you'll fall for anything" — Alexander Hamilton

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